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Lição 1ª - O Surgimento da Teologia da Prosperidade




TEOLOGIA DA PROSPERIDADE




Escrito por Ezequiel Carvalho, professor da classe dos jovens


Antes de analisarmos as questões históricas ou sociológicas envolvendo a chamada teologia da prosperidade, ou nos debruçarmos numa análise teológica do tema, devemos ter em mente o sentido já muito esquecido do significado da palavra prosperidade, dentro de uma perspectiva bíblica.

Prosperidade é uma palavra derivada da expressão latina prosperare, que significa basicamente quatro coisas: progredir, melhorar de condição, crescer e enriquecer. Obviamente com o advento do capitalismo, a palavra se alinhou com a quarta definição. Portanto quando se diz hoje que alguém é próspero na verdade se quer dizer que a pessoa é endinheirada, ou melhor, financeiramente bem sucedida.

A Bíblia, no entanto, tem outra ideia sobre a prosperidade. É um engano dizer que o Evangelho não nos promete bênçãos. Mas a benção do Evangelho é muito maior do que o dinheiro, por certo é aquilo que Paulo cita: as coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam (I Coríntios 2:9).

Ora aquilo que o dinheiro pode conseguir limita-se a vaidade humana. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Mas quem corre atrás de riquezas jamais se farta. Por isso diz o sábio: Doce é o sono do trabalhador, quer coma pouco, quer muito; mas a fartura do rico não o deixa dormir. Precisamente por causa disso: a prosperidade do mundo é passageira.

Não é assim, contudo, o dom de Deus, a prosperidade segundo Cristo, a benção que ele pode nos ofertar. Pelos seus ricos méritos, Cristo é detentor de um grande tesouro. O seu tesouro é regeneração da humanidade. Somente Jesus pode colocar dentro do homem a natureza divina, como disse Pedro: Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo (II Pedro 1.4).   

Dito isso, chegamos a um ponto chave para o nosso entendimento sobre a teologia da prosperidade. Ela se baseia em dois pilares distintos, mas ao mesmo tempo complementares: o acúmulo de riquezas materiais, como uma recompensa natural aos filhos de Deus, e um endeusamento do homem, pois ele pertence à natureza divina. Percebe-se que há um desvirtuamento da doutrina bíblica sobre esses temas, como apresentado acima, e que existe também resquícios do secularismo e do paganismo dentro da Igreja de Cristo.

Tarefa complicada seria, contudo, fazermos uma genealogia segura e inequívoca das ideias instituidoras dessa teologia. O comentarista desse trimestre, o pastor, teólogo e filósofo, José Gonçalves nos traz a teologia da prosperidade como que um desdobramento do gnosticismo.

O gnosticismo pode ser definido como uma teoria religiosa que junta aspectos do cristianismo com o judaísmo, filosofia grega e paganismo, tendo o intuito de resolver basicamente duas questões da filosofia platônica: a existência do mal e do sofrimento no mundo e o dualismo matéria e espírito (sendo a matéria algo ruim e o espírito bom).

Não cabe pelo foco e encurtamento de espaço, destrinchar ponto a ponto o gnosticismo. Apenas é necessário descrever como o comentarista associa o gnosticismo com o assunto proposto. Para ele como essa teoria religiosa nega a existência do mal e do sofrimento, o nosso pastor associa esse enfoque a confissão positiva e ao otimismo desenfreado da teologia prosperidade, além de que ele percebe que em ambos os casos a salvação da alma recebe um valor menor do que é apresentado na teologia tido como ortodoxa.

José Gonçalves tem razão. Mas penso que ele deixou passar pontos de influência mais significativos para a visão teológica atual. Se ele fala de “modismos”, não podemos concluir que uma doutrina apresentada no tempo de Cristo seja um modismo. Algo também importante é que os fundadores da teologia da prosperidade são pessoas que na sua grande maioria viveram no século passado (E. W. Kenyon, Kenneth E. Hagin, Kenneth Copeland).

Por essas razões, acredito que, tirando a questão da confissão positiva, o nosso foco deveria recair sobre a ascensão da sociedade burguesa no que tange ao materialismo e ao humanismo no que se refere a “divinização” do homem.

Com o advento da classe burguesa houve uma mudança de valores. Nada daquilo que João Batista disse: quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira (Lucas 3.11), ao contrário quem vive no capitalismo não empresta por espontânea vontade, no máximo aluga com juros.

E por quê? Porque é necessário ter dinheiro, ostentar posses. A sociedade capitalista é a sociedade de consumo. Como apresenta de forma bastante inteligente Camila Fernandes:

"Com a necessidade de fazer o mercado girar, e atingir níveis antes não imaginados, a sociedade capitalista criou o mito do consumo como algo bom e imprescindível para os cidadãos. Para isso, a capacidade aquisitiva se tornou um meio de classificar as pessoas, bem como a quantidade e a qualidade do que estas consomem.  No momento em que o consumo se torna a base da divisão populacional, consumir tornou-se uma forma de prestígio social. Então, ao consumir algo pertencente a uma classe superior as pessoas sentiam-se felizes e incluídas na sociedade. Desse modo, foi criado o mito do consumo e a principal característica do capitalismo: a obsessão por este consumo."

Mas isso não existia nos tempos bíblicos, não se é condenado à avareza? Sim, de fato. Mas o que existe hoje é que a avareza, a ambição, o egocentrismo são tidos como virtudes. Hoje se agradece bem mais nas igrejas, o fato de uma pessoa ter ganhado uma promoção no trabalho, a aquisição de um imóvel, a compra do carro do ano, do que uma benção espiritual. E disso não podemos ser hipócritas, pois sabemos que já estamos de certa forma todos contaminados. Como Ló, sentimos indignação em relação aos pecados de Sodoma, mas pouco nós fazemos para escapar dela.

É necessária uma forte crítica a essa posição que a Igreja de Deus vem tomando, muito mais próxima daquilo que foi dito sobre a igreja em Laodicéia do que da igreja em Filadélfia. Temos nos achado ricos, enquanto somos pobres. Deus não vê como o homem vê. Para Deus Lázaro era rico, embora mendigasse, enquanto a igreja em Laodicéia era miserável, enquanto se achava rica, de que nada faltava.

Por outro lado, temos o humanismo. O humanismo é uma palavra que designa várias acepções. Existe um humanismo cristão, Erasmo de Roterdã e Lutero foram dois grandes humanistas. O humanismo foi importante para a Reforma, pois permitiu uma crítica mais contundente as tradições religiosas extrabíblicas. Isso foi fundamental para o avanço do protestantismo. Em compensação a Igreja ganhou novos desafios.

O humanismo aliado com o materialismo, fez com que o homem perdesse o apreço e a reverência por Deus. Hoje ele se acha senhor de si, e parece não conseguir compreender a necessidade da salvação. É como se Deus vivesse para o homem, somente existindo por ele. Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores, fala assim:

Jesus não morreu por causa da nossa justiça; morreu isto sim, por causa dos nossos pecados. Ele não veio salvar-nos porque éramos merecedores de salvação, mas porque éramos absolutamente indignos, arruinados e perdidos. Ele não veio à terra por qualquer razão que se achasse em nós, mas apenas e tão somente por razões que Ele encontrou nas profundezas de Seu divino amor. Em tempo oportuno, Ele morreu por aqueles a quem descreve não como piedosos, mas como ímpios, aplicando a eles o adjetivo mais negativo que poderia escolher (Escapando da Sedução – Retorno ao Cristianismo Bíblico, Dave Hunt, Chamada da Meia-Noite, p. 23)

Atualmente o cristianismo segue o sentido oposto daquele pregado pelos apóstolos, quando as pessoas ao ouvir o Evangelho caíam em lágrimas, suplicando o perdão de Deus. Hoje não, o cristianismo pregado por muitas igrejas é o do homem no centro de todas as coisas, aquele do qual o Supremo Deus suplica a sua aceitação, implora pelo um pouco de atenção. Não é esse o cristianismo bíblico.

A Igreja hoje tem o maior desafio de todos os tempos, achar a sua própria identidade. Unir-se em torno de Cristo e não contender por motivos mesquinhos. O materialismo está impregnado no homem moderno com uma força maior do que estava o paganismo no homem do tempo de Cristo.

Cabe a Igreja a luta. Temos, porém a promessa da vitória. As portas do Inferno não prevalecerão. Devemos tomar essa promessa e invadir o terreno do inimigo. O que é de Deus o Maligno não toca, não, pois temos a mesma promessa de Abraão.  

         


LIÇÕES BÍBLICAS - 1º TRIMESTRE DE 2012



Saiu a nova revista para o primeiro trimestre de 2012. O tema será o seguinte: A Verdadeira Prosperidade - A vida cristã abundante.




As lições que serão aprendidas nesta revista são:

1- O Surgimento da Teologia da Prosperidade
2- A Prosperidade no Antigo Testamento
3- Os Frutos da Obediência na Vida de Israel
4- A Prosperidade em o Novo Testamento
5- As Bênçãos de Israel e o que Cabe à Igreja
6- A Prosperidade dos Bem-aventurados
7- "Tudo Posso Naquele que me Fortalece"
8- O Perigo que Querer Barganhar com Deus
9- Dízimos e Ofertas
10- Uma Igreja Verdadeiramente Próspera
11- Como Alcançar a Verdadeira Prosperidade
12- O Propósito da Verdadeira Prosperidade
13- Somente em Jesus Temos a Verdadeira Prosperidade



Lição 13ª - A integridade de um Líder




Escrito por Aguinaldo Barbosa, vice-dirigente da Escola Dominical em Pereira Carneiro 1




Graças a Deus que nos dá a vitoria por nosso Senhor Jesus Cristo (I Coríntios 15.57). Sinto-me muito feliz por mais esta oportunidade de trazer esse pequeno comentário dessa última lição de 2011, que traz este importante tema:


A INTEGRIDADE DE UM LÍDER


- Integridade ou retidão (Salmos 7.8)

- Íntegro ou correto (Tiago 1.4)


Adjetivo difícil de encontrar nos homens atualmente, pois o diabo tem colocado nos corações dos homens que eles não precisam ser íntegros, justos e honestos e por conta disto vemos todos os dias à decadência moral nos juízes, nos políticos, e até em alguns líderes religiosos, o que se reflete nos seus liderados.

Por mais humilde que o homem seja, todos têm dentro de si o desejo de liderar quer seja por orgulho, ou por prazer e alegria, mas para termos êxito é preciso ter chamada de Deus, ser escolhido mesmo quando nos julgamos fracos e pequenos, porém achamos graças aos olhos de Deus.

A chamada de Davi (I Samuel 16.1) quando Samuel chega a casa de Jessé acontece algo interessante, o profeta Samuel que se deixa [enganar] pela aparência (I Samuel 16.6-7). Louvemos a Deus que não se esquece daqueles que tem prazer na sua lei, que vivem na obediência (I Samuel 16.10,11). Como é maravilhoso o chamado do Senhor, tudo acontece de forma natural sem precisar ter intriga, inveja ou disse-me-disse.


A escolha de Jeremias

O trabalhar de Deus muitas vezes nos deixa meio confuso, mas não devemos nos preocupar, pois Ele nos conhece mais que nós mesmos, pois de modo grandioso nos formou (Jeremias 1.4-5). Em termos de linguagem, Jeremias seria sacerdote na cidade de Anatote, contudo Deus mudou o rumo da sua vida, pois sabia que em Jeremias havia coragem, fé e fidelidade para cumprir todos os designos que Deus tinha para falar ao seu povo (Jeremias 1.6-8).

Quando somos chamados por Deus não é preciso se preocupar, pois Ele tudo supre em nossas vidas, é só permanecermos firmes e sempre constantes (I Coríntios 15.58). Todo homem é formado de inteligência, habilidades e livre arbítrio para escolher entre adorar a Deus ou não obedecer ou não sacrificar a Deus (Gênesis 4.4-7), pois a personalidade do ser humano é algo que não se pode esconder, porque a honestidade, respeito e integridade são qualidades que agradam a Deus.


OBSERVEMOS A ESTADIA DE DANIEL QUANDO CATIVO NA BABILÔNIA

Quando foi cativo para a babilônia, Daniel e seus amigos tiveram o privilégio por serem instruídos, de boa formação secular e de boa aparência, qualidades de que alguém precisa para vencer na vida, mas Daniel não se deixou levar pelas vantagens que lhes foram apresentadas. Sabemos que o diabo, nosso adversário, muitas vezes usa a sutileza para nos tirar da presença de Deus, no entanto, Daniel era fiel a Deus e de convívio de oração a Deus (Daniel 6.4,10)

O mais importante na vida do salvo é que ele não precisa gritar aos quatro ventos seus conhecimentos e seus talentos, se é que alguém tem algum dom por si só adquirido (Daniel 5.11,12). O homem de Deus não se gloria nem pede paga para fazer a vontade de Deus (Daniel 5.17). Muitas vezes alguém tenta tirar a glória de Deus com presentes, com prêmios com dinheiro. Porém aqueles que sabem que foram escolhidos por Deus mantêm-se firmes e contritos de coração (Salmos 51.17).


O CAMINHO ESPINHOSO DE JOSÉ, FILHO DE JACÓ

Havia uma inveja dos irmãos de José, porque percebiam que seu pai o amava mais que eles (Gênesis 37.3), não obstante a isso, José teve dois sonhos que eram como um enigma nos quais todos o reverenciavam inclusive seu pai e sua mãe (Gênesis 37.10). Muitas vezes a falta de maturidade nos deixa em maus lençóis, mas a misericórdia de Deus nos livra (Lamentações 3.22).

Muitas vezes o Senhor nos permite passar pelo vale da sombra da morte (Salmos 23.4; Gênesis 37.20-21) os momentos que José passou de angústia em poder seus irmãos foi de reflexão a tudo quanto havia dito sobre os sonhos a ponto de ser vendido como escravo pelos seus irmãos (Gênesis 37.28; Zacarias 13.6).

Mas o Deus que nós servimos é quem nos guarda (Sl 121.7-8). Ele provê todas as coisas, de modo que José foi parar na casa de Potifar, eunuco e capitão da guarda de Faraó, o qual percebeu que Deus era com ele e que tudo quanto fazia prosperava (Gênesis 39.3). Dessa forma Potifar o pôs sobre chefe de tudo quanto tinha dentro da sua casa. Quando andamos nos caminhos do Senhor até os ímpios [Deus faz] prosperar através de nós e o nome do Senhor é glorificado (Gênesis 39.5).

Nunca, todavia, devemos nos gloriar, pois o diabo nosso acusador não dorme e está sempre tentando nos humilhar nos envergonhar e tirar-nos da posição de servo fiel (Gênesis 39.7-9).

Devemos saber o que é nosso e o que é dos outros (Mateus 22.21), dessa forma todas as promessas de Deus se cumprem em nossas vidas, pois a promessa é para aqueles que permanecem (João 8.31). Não devemos tentar criar meios para alcançarmos os objetivos que Deus nos propôs, mas aguardar com esperança a vontade de Deus (Tito 2.13), pois aqueles que foram chamados a liderar precisam ter uma vida de devoção à obra de Deus. Neemias não só se preocupou com a restauração dos muros de Jerusalém e das suas portas, mas também com o estado religioso, quanto à forma de adorar a Deus, com todo o ritual, reverência e exclusividade (Neemias 10.31).

Sabemos que aqueles que ministram na casa do senhor têm uma grande responsabilidade e têm que ouvir a voz de Deus. Quando oramos estamos intercedendo ou suplicando, ou pedindo por alguém. Vemos que até mesmo o sumo-sarcedote oferecia sacrifício por si mesmo (Levítico 16.11). O rei se humilha diante de Deus em uma oração onde ele apresenta sua retidão diante de Deus (II Reis 20.1-3).

É comum um homem com poder ter uma vida cheia de pecados (II Samuel 16.22) e quando se está com o poder nas mãos não espera e não se respeita a ninguém (I Samuel 13.12-14). Sabemos que a oração é o canal de ligação do homem com Deus (I Reis 18.36-38), podemos aprender com várias pessoas na Bíblia Sagrada que venceram por ter uma vida de oração. Abraão orou (Gênesis 20.17-18) e Deus abriu a madre [de sua esposa], Ana orou e chorou amargamente (I Samuel 1.10), mas teve êxito no seu propósito (I Samuel 1.27).

Jó orou pelos seus amigos que o desprezaram no momento de maior dificuldade (Jó 42.8,9), mesmo, no tempo em que estamos vivendo onde a praticidade está a nossa volta precisamos viver em oração para vencermos todas as ciladas do diabo até o dia da redenção (I Coríntios 16.13). Amém. 




Lição 12ª - As consequências do jugo desigual


PELA DEFESA DO CASAMENTO BÍBLICO

  • Escrito por Ezequiel Carvalho, professor da classe dos jovens






Infelizmente por motivos pessoais o comentarista convidado por Flávio não pôde escrever o comentário a essa lição e escusou-se do convite feito. Tendo isso ocorrido, Flávio me convidou a substituí-lo, cobrindo a lacuna deixada, o que, de pronto, aceitei. Espero contribuir para o entendimento de um assunto que jugo ser de extrema importância.







O jugo desigual    



Análise do contexto histórico

Neemias governou Israel por um período de aproximadamente 12 anos e depois desse tempo voltou à Pérsia. No tempo em que passou com o povo judeu ele foi responsável pela edificação dos muros e suas portas, além do maior avivamento espiritual realizado no pós-exílio até aquele momento, com a exposição das Sagradas Escrituras e o arrependimento do povo.

Mas como qualquer avivamento feito até hoje, o de Neemias não se perpetuou. Para sermos bastante sinceros e rigorosos, não durou muito tempo, pois a ausência de Neemias por apenas “alguns dias” (Neemias 13.6) provocou um retrocesso em relação ao cumprimento da Lei.

De volta Neemias realizou uma reforma sobre três focos distintos.

Primeiro corrigiu os desmandos do sumo sacerdote Eliasibe, o qual tinha feito dentro do templo uma câmara grande para Tobias habitar, onde dantes se depositavam as ofertas de alimentos, o incenso, os utensílios, os dízimos do grão, do mosto e do azeite, e a oferta alçada para os sacerdotes.

Neemias desapropriou Tobias e ordenou que se purificassem as câmaras e que tornassem a trazer para ali os utensílios da casa de Deus, com as ofertas de alimentos e o incenso. A população, que pelo erro de Eliasibe tinha deixado de ofertar à Casa do Senhor, voltou a contribuir. Com isso fez Neemias uma restauração no serviço ministerial do templo, marcado pela lisura, transparência e competência, onde se lê:

Então contendi com os magistrados, e disse: Por que se desamparou a casa de Deus? Porém eu os ajuntei, e os restaurei no seu posto. Então todo o Judá trouxe os dízimos do grão, do mosto e do azeite aos celeiros. E por tesoureiros pus sobre os celeiros a Selemias, o sacerdote, e a Zadoque, o escrivão e a Pedaías, dentre os levitas; e com eles Hanã, filho de Zacur, o filho de Matanias; porque foram achados fiéis; e se lhes encarregou a eles a distribuição para seus irmãos (Neemias 13.11-13).

Outra questão enfrentada por Neemias foi o desrespeito à ordenança da guarda ao sábado que o povo estava praticando por pura ganância, pois se diz que aqueles que produziam vinho e que vendiam uvas e figos e aqueles que compravam peixe o faziam no dia de sábado, ou seja, para se obter lucros financeiros, os judeus estavam esquecendo-se da adoração a Deus e dedicando-se exclusivamente aos seus negócios. O que Neemias proibiu. Todos os dias poderia se trabalhar, vender e comprar, mas o sábado seria dedicado ao Senhor.

No entanto, de todas as reformas praticadas por Neemias, a mais delicada, foi sem sombra de dúvidas, a que ele fez em relação aos casamentos mistos (judeus com não judeus). Pois nesse caso ele ordenou a dissolução de famílias, com a justificativa de que esses matrimônios estavam em desacordo com a lei divina.

Essa atitude revela que Neemias não cobiçava o poder político para si, porquanto esse tipo de ação era totalmente impopular, em certa medida, atrairia para ele apenas a animosidade da população israelita. Mas quais razões o levaram agir dessa forma, tomando essa decisão completamente radical, estaria Neemias certo?  


O casamento e o divórcio, um exame abrangente
 

Mesmo antes de a nossa legislação reconhecer que o casamento é a base da sociedade e que deve ser protegido pelo Estado (art. 226, Constituição da República Federativa do Brasil), a Bíblia já se posiciona sobre isso dizendo que o casamento é indissolúvel. Porquanto nos relata o livro de Gênesis que de dois, Deus fez um (2.21-22), portanto assim quando as pessoas se casam não são mais dois, mas uma só carne. Assim sendo, o que Deus ajuntou não o separe o homem (Mateus 19:6).

No entanto o que se vê? Recente um estudo do IBGE mostrou que em média um casamento no Brasil dura 16 anos e quase a metade dos casamentos acaba aos 10 anos de matrimônio. No ano passado 243.224 casais se separaram, um número que cresce todo ano e que em 2010 bateu o seu recorde histórico.

Obviamente não se quer dizer aqui que uma pessoa deva ficar sofrendo, na ideia equivocada que o amor tudo deve suportar. Realmente a Bíblia diz que o amor tudo suporta, mas Cristo deixou claro que há situações em que o casamento já não é mais casamento, já que não representa mais o desejo de Deus para a vida dos seus servos.

No tempo de Jesus, havia uma controversa teológica muito importante que contrapunha duas tradições rabínicas díspares sobre o entendimento do matrimônio e a possibilidade do divórcio. Uma era a concepção trazida pelo rabino Shammai e a outra pelo importantíssimo rabino Hillel.     

A divergência de opiniões residia na interpretação do texto contido em Deuteronômio 24.1 (único no Antigo Testamento que fala especificamente dos critérios necessários para permissão do divórcio):

Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, então será que, se não achar graça em seus olhos, por nela encontrar coisa indecente, far-lhe-á uma carta de repúdio, e lha dará na sua mão, e a despedirá da sua casa (Deuteronômio 24:1).

Os adeptos da teoria de Hillel diziam que Moisés quis dizer que se poderia dar carta de divórcio quando houvesse algo indecente ou apenas se o marido não achasse graça na sua esposa, já quem seguia Shammai defendia que Moisés disse que os critérios deveriam ser dois, assim sendo mesmo se o marido não achasse mais prazer na sua esposa ele só poderia se divorciar se fosse por ele encontrado alguma “coisa indecente” nela.

De qualquer forma a separação nos tempos de Cristo era algum muito incomum. Somente o marido poderia pôr fim ao casamento, mas para isso ele teria que pagar uma pesada indenização e devolver o dote. O que fazia que a doutrina de Shammai prevalecesse, mas apenas por comodismo, já que se divorciar por gosto (ou falta dele no caso) acarretaria num prejuízo financeiro muito grande ao marido. 

Jesus então foi compelido a responder essa questão, posicionando nesse embate teológico. Ele concordou com Hillel sobre o entendimento de que Moisés tivesse permitido o divórcio por qualquer motivo, mas segundo Jesus a lei foi criada para amenizar a maldade humana: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim (Mateus 19:8).  

Por que no princípio não foi assim? Porque o propósito de Deus é que as pessoas vivam felizes na construção da vida a dois, como no Éden. O Éden não é só o paraíso terrestre, mas o ideal da família: E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne (Gênesis 2.23-24).

Cristo então inverte a perspectiva, ainda que preserve pontos da doutrina de Shammai, em vez de falar sobre o divórcio valoriza o casamento como um antídoto natural contra a separação e a infelicidade dos casais. Dessa forma diz: Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério (Mateus 19.9).

Jesus então proíbe um segundo casamento motivado apenas por razões que não seja o adultério. O casamento é único, só deve acontecer apenas uma vez. Ao ouvir isso todos os judeus se espantaram e os próprios discípulos comentaram com o mestre: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar (Mateus 19.10).

De fato, se for para casar apenas para casar, sem nenhuma reflexão, apenas porque acha fulano ou sicrana de boa aparência, ou por alguma forma de interesse, ou ainda inconseqüentemente, não convém casar. Para Jesus então o casamento é fundamental, pois se todos casassem bem, a sociedade seria mais sadia e não se falaria em divórcio.

Mas voltando aquele estudo realizado pelo IBGE, constata-se que o número de divórcios é grande, mas o de casamentos também, se casa hoje muito mais do que antigamente. E o que isso nos explica? Revela-nos aquilo que Cristo mostrou, as pessoas se casam por casar. Há pessoas públicas em que se sabe que casou umas sete vezes e que um dos seus casamentos durou apenas uma semana!

Hoje acontece algo parecido com que ocorreu com Sansão. Que diz a Bíblia sobre o juiz? E desceu Sansão a Timnate; e, vendo em Timnate uma mulher das filhas dos filisteus, subiu, e declarou-o a seu pai e a sua mãe, e disse: Vi uma mulher em Timnate, das filhas dos filisteus; agora, pois, tomai-ma por mulher (Juízes 14:1-2).

Impressionante, ele nem mesmo a conhecia, apenas desceu a Timnate e vendo uma das jovens dos filisteus, subiu e disse ao seu pai quero casar com ela. O fim dessa história todos nós conhecemos, Sansão teve sua alma despedaçada.

Chegamos, pois ao momento em que o contexto de Neemias nos parece mais claro. Os judeus voltaram a repetir o mesmo erro dos seus líderes e se deixaram levar pela lascívia, desposando quem eles quisessem, rejeitando a aliança com Deus e condenando sua descendência ao desconhecimento dos preceitos sagrados.




A atitude de Neemias, comparação com a teologia do casamento expressa por Paulo em I Coríntios 7

  
Paulo no Novo Testamento também se mostrou radical. Ele compreendia tanto a responsabilidade oriunda do casamento que chegou a dizer exageradamente que: bom seria que o homem não tocasse em mulher (I Coríntios 7:1).

Paulo tinha a mesma visão de Neemias sobre o casamento misto, mesmo aqueles que estão juntos por boas intenções devem ter em mente isso: Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher? (I Coríntios 7.16).

No entanto ele discordava que o caminho era despedir o cônjuge não crente. Pois diz: Mas aos outros digo eu, não o Senhor: Se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe (I Coríntios 7.12).

Por que a atitude de Neemias foi diferente? Porque esse mesmo povo havia jurado que não contrairia esse tipo de casamento, não daria suas filhas aos estrangeiros nem tomaria dos povos vizinhos ninguém para se casar com seus filhos (Neemias 10.30). Há um verdadeiro contraste entre a fidelidade de Neemias ao Senhor com a desobediência praticada pelos filhos de Israel.

Neemias os conclamou para o bom senso. Disse ele que não havia uma forma segura de não fazer com que houvesse uma mútua influência entre os casais. Essa influência, contudo, era danosa para os judeus.

O profeta Ageu nos dá uma ilustração muito boa sobre essa questão. Ele questionou: se uma pessoa toca numa veste santificada ao Senhor, essa pessoa tornar-se-á pura por causa disso? A resposta é não. Agora, se uma pessoa vestindo uma roupa santificada ao Senhor, sendo ele também cerimonialmente limpo, colocar em algo impuro em si, ficará essa pessoa deixará de ser limpa? A resposta é sim, essa pessoa e suas vestes ficariam impuras (cf. Ageu 2.11-13).

E Neemias citou um exemplo perfeito: o rei Salomão. Sendo o rei não só o mais poderoso de sua terra e o homem mais inteligente do mundo, ele próprio se deixou seduzir pelas suas esposas e curvou-se diante dos ídolos delas para agradá-las. Não existe imunidade em casamentos mistos. O nível de perigo, independente da quantidade e qualidade da fé do cônjuge cristão, é muito alto para se arriscar. O risco aqui de desvio é alto, tornando inaceitável a sua atitude.

Obviamente permaneçamos seguindo a autoridade apostólica, do qual a igreja foi alicerçada em Cristo para o crescimento pleno na verdade. Se existe um casamento de cônjuges de fé diferentes, e o cônjuge não cristão consente nisso também, respeitando a fé do cônjuge cristão, que esses não se separem.

Mas Neemias nos faz uma advertência que deveria ser ensinado abertamente nas nossas congregações, que os jovens levem a sério o namoro, o noivado, o casamento. É por não existir uma conversa tão franca como esta, que muitos jovens se têm contaminado, e outros se têm casado mal e sofrem terrivelmente por causa disso, perdendo as promessas de Deus. Todavia que seja dito em alto e bom som aquilo que a Bíblia perfeitamente nos ensina:  

Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. Portai-vos de modo que não deis escândalo nem aos judeus, nem aos gregos, nem à igreja de Deus (I Coríntios 10.31-32).          






LIÇÃO 11ª- O DIA DE ADORAÇÃO E SERVIÇO A DEUS




Texto Áureo: (At 20.7)





Introdução: Apesar de não vivermos mais sob a dispensação da lei como os judeus pós-exílio estavam vivendo, devemos observar os princípios imutáveis da palavra de Deus. Nos dias de Neemias os judeus sabiam que deveria guardar o sábado como dia de repouso e adoração a Deus, era um mandamento expresso na palavra de Deus e tinha de ser observado ( Êxodo 20.1-8; 31.13).



Mas o povo de Deus mesmo instalado na sua própria terra estava violando, desrespeitando, desprezando e profanando tal mandamento. Deus não tolera profanos!! (Hebreus 12.16; I Samuel 2.17). Deus estabeleceu esta ordenança como sinal de uma aliança entre Ele e Israel ( Êxodo 16.26-29; 31.12-17).


Os propósitos eram: 

1. Proporcionar um dia de repouso ( Neemias 13.19; Êxodo 16.29-30). O termo “sábado” ( hb. Shãbath) significa literalmente, “interceptar”, “interromper”. Implica uma cessação completa de uma atividade (cf. Gênesis 2.3). Portanto nenhum trabalho deveria ser realizado pelos israelitas no sábado (Êxodo 16.23; 35.2-3; Jeremias 17.22; Marcos 16.1). O comércio também era proibido ( Amós 8.5 ).


2. Propiciar um dia de adoração e serviço ( Levítico 23.3, 25.4; Números 28.9; Deuteronômio 5.12; Ezequiel 46.3-12; Lucas 4.31; 13.10). 

3. Levar o povo a se lembrar de que Deus os libertara da escravidão do Egito (Deuteronômio 5.15). 

4. O repouso do sábado tipifica o nosso repouso futuro (Hebreus 4.4,9,10).


Não precisamos mais guardar o sábado como aqueles israelitas tinham de guardar, mas na Nova Aliança devemos obedecer voluntariamente ao princípio de que devemos ofertar a Deus também o nosso tempo e adorá-lo na beleza da sua santidade. No novo testamento Jesus se declara como Senhor do Sábado (Marcos 2.26-28 ).


Somente ele cumpriu toda a lei e deixou bem claro que não há mandamento maior do que este: "Amarás, pois, ao Senhor teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes.” ( Mc 12.30,31).


Conclusão: Neemias em seu tempo se indignou, com aqueles que descumpriram a lei mosaica violando o sábado e estavam fazendo da casa de Deus comércio, em nossos dias temos a liberdade para adorar a Deus em qualquer dia (Colossenses 2.16,17; Romanos 14.5). Porém devemos ter o mesmo zelo pelas coisas de Deus como Neemias teve. Amém.